O alto custo e a escassez de matérias-primas afetam diferentes setores industriais desde o final do ano passado e permanecem como principal problema em 2021 após o recente aumento no preço do aço, de acordo com a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs). Segundo a entidade, observa-se especialmente falta ou aumento no valor do aço, mas também em vidro, plástico, papelão e “tecidos não tecidos” (TNT).
Entre as causas apontadas para essa elevação do custo desta liga metálica amplamente utilizada na indústria está o fato de que a produção siderúrgica do Brasil sofreu uma expressiva contração por causa do período de isolamento social para conter o avanço da pandemia. “Essas medidas de isolamento, combinadas com a elevada incerteza quanto à extensão da crise que se iniciava, provocaram uma forte queda na atividade econômica e como consequência uma menor demanda de matérias-primas por parte das empresas”, diz o presidente da Fiergs, Gilberto Porcello Petry.
As dificuldades no momento da pandemia levaram diversas siderúrgicas a tomarem decisões radicais de corte de produção, inclusive com o abafamento e desligamento de altos fornos, aciarias e laminações. Projetado para funcionar ininterruptamente, o desligamento de um alto forno é custoso e seu pleno religamento pode levar semanas até atingir o nível ótimo de produção.
A produção brasileira de aço bruto começou o ano de 2020 em baixa na comparação com o mesmo período de 2019, intensificada por conta da pandemia. Entre abril e junho, em todos os meses a produção caiu mais de 20%. A partir de julho, com a reabertura gradual das atividades, os números começaram a melhorar, mas com taxas insuficientes para repor as perdas, que fecharam o ano em -4,9%. A escassez do aço atingiu a maioria dos principais países e apenas China, Estados Unidos, Irã e Turquia apresentaram crescimento na produção no acumulado do ano até novembro.
“Como resposta à queda da atividade econômica, os governos lançaram pacotes de estímulos fiscais grandiosos. A injeção de recursos fez com que houvesse uma rápida e forte retomada na demanda com reflexos na procura por aço, em meio a um contexto com empresas siderúrgicas operando abaixo de sua capacidade, ou seja, com restrição de oferta”, explica Petry.
Com a produção em baixa não apenas no Brasil e pela forte desvalorização do real frente ao dólar, importar o produto ficou mais caro. O preço médio por tonelada importada de aço atingiu R$ 6.484 em setembro, o maior valor da série iniciada em 2013. Nos meses seguintes houve um recuo, chegando a R$ 5.160 em dezembro. Mesmo assim, em relação a janeiro de 2020 (R$ 4.159), o valor de dezembro revela um aumento 24,1%. No Brasil, de abril do ano passado até o final de janeiro de 2021, o reajuste no preço do aço chega a 100% em alguns setores industriais.
Especialmente no segmento de bens de capital, no ano passado a produção física no Brasil recuou 9,4% em comparação com o ano anterior, queda mais intensa do que a verificada para o total da indústria, que chegou a 4,5%. Esse resultado só foi atenuado pelo crescimento de mais de 6% na produção de bens de capital agrícolas, com grande participação na produção total. Em caminho inverso, os bens de capital para equipamentos de transporte recuaram 22,6%, influenciados pela queda de 33% nas vendas de ônibus e 12,3% nas de caminhões.
Fonte: Jornal do Comércio
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